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Friday, January 7, 2011
Dilma, interrompida
Dilma, interrompida
janeiro 7, 2011
Ah, o exagero – a sombra monstruosa do exagero. “Lula estará conosco.” “Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade”: “o maior líder que este país já teve.” “Seu nome já está cravado no coração do povo.” Não é o elogio incisivo, mesmo mais que protocolar, ao presidente que saiu, companheiro de partido, responsável por seu triunfo. É a louvação desmedida, o adjetivo incontido, o culto despropositado, a metáfora de ressonâncias religiosas. “Sob sua liderança, o povo brasileiro fez a travessia para uma outra margem da história.” É Moisés, na travessia das águas e na jornada pelo deserto. Nos seus dois discursos de posse, Dilma Rousseff apalpou a linguagem das tiranias personificadas.
Condutor? Comandante? Eterno Presidente? Líder Genial dos Povos? Grande Timoneiro? A linguagem faz diferença, pois a política, em tempos de paz, é feita de palavras. Democracia é o regime das instituições, não dos líderes. Nas Repúblicas democráticas, nenhum líder sintetiza o povo – e exatamente por isso existem oposições legais. Delinquindo nos interstícios da lei, a Petrobrás batizou com o nome de Lula o campo petrolífero de Tupi. O culto a Lula é uma ferida na alma da democracia. Dilma subiu a rampa fazendo as orações desse culto bizarro.
Os discursos de posse de Dilma devem ser lidos como harmonias interrompidas. A presidente tenta desabrochar, insinua-se e esboça um aceno; ansiosa, tropeça e cai. Aqui e ali, por todos os lados, encontram-se os indícios da sua vontade de governar “para todos os brasileiros e brasileiras”. Mas o propósito se estiola no caminho, sempre que colide com um dogma do lulismo.
Há o desejo discernível e, contudo, frustrado de construir uma narrativa realista do período pós-ditadura militar. “Um governo se alicerça no acúmulo de conquistas realizadas ao longo da história. Por isso, ao saudar os avanços extraordinários recentes, é justo lembrar que muitos, a seu tempo e seu modo, deram grandes contribuições às conquistas do Brasil de hoje.” Ela poderia ter dito: José Sarney consolidou as liberdades políticas, Fernando Collor iniciou a abertura comercial, Itamar Franco fez o Plano Real, FHC ergueu o edifício da estabilidade econômica. Mas não disse, pois pronunciar o nome de um predecessor seria incorrer no pecado da apostasia: a negação da primazia de Lula.
Lula falou quase sempre como chefe de uma facção – e, no dia de passar a faixa, referiu-se ainda aos opositores como “inimigos”. Dilma, ao contrário, almeja falar como a “presidente de todos”. Ela estendeu a mão aos partidos de oposição, sem pedir a ninguém “que abdique de suas convicções”. Com o olho posto nas lições da campanha eleitoral, enfatizou o imperativo do combate à corrupção e declarou um compromisso “inegociável” com as liberdades individuais, de religião, de imprensa e de opinião. “Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”, assegurou, reproduzindo a fórmula empregada no discurso de vitória. A declaração será posta à prova logo mais, quando a presidente abrir a gaveta onde repousa o projeto de controle estatal de conteúdos dos meios de comunicação, um presente de grego deixado por Franklin Martins, em nome de Lula.
Dilma prometeu uma política externa “baseada nos valores clássicos da diplomacia brasileira”, oferecendo uma justificativa cifrada para o afastamento de Celso Amorim. Recitou, um a um, os princípios inscritos na Constituição: promoção da paz, não intervenção, defesa dos direitos humanos. “Direitos humanos”, ela disse! É uma censura indireta a Lula, que elogiava ditaduras e traçava paralelos abomináveis entre presos políticos e criminosos comuns.
Entretanto, os interditos pontilham a estrada como campos minados. Logo depois dos direitos humanos, apartando-se do texto constitucional, Dilma mencionou o “multilateralismo”. Em tese, o termo significa, apenas, o fortalecimento das instituições multilaterais, como a ONU, o FMI e o G-20. Na linguagem codificada do lulismo, condensa o impulso antiamericano que moldou a desastrada aproximação com o Irã. O “multilateralismo”, nessa acepção pervertida, combina com a permanência de Marco Aurélio Garcia no posto de chanceler fantasma. “Lula estará conosco”, lembrou a presidente que se sabe tutelada.
“Eu troquei meu nome e coloquei Dilma lá na cédula”, avisou Lula na campanha eleitoral. O ex-presidente interpreta o novo governo como seu terceiro mandato e para exercer a tutela nomeou dois primeiros-ministros informais: Antônio Palocci, tutor externo, e Gilberto Carvalho, tutor interno. Ambos cometeram atos falhos antes do encerramento do primeiro dia de governo. Palocci dirigiu um pedido aos ministros: “Tenham-me como um de vocês, um da equipe, um do time.” Ninguém que é “um de vocês” fala assim. Carvalho declarou em entrevista: “Lula não precisa de mim. Seria muita pretensão querer ser o espião do Lula no Planalto.” O sarcasmo involuntário continua a ser sarcasmo.
Marta Suplicy nunca aprendeu a arte política da sublimação do desejo: a senadora proclama, gritando, o que deve ser sussurrado. Certa vez, nos bastidores de uma reunião da Direção Nacional do PT, incorporou a persona da rainha de Alice para exigir, aos berros, a expulsão imediata de uma corrente minoritária. Agora, na posse da presidente, alertou para a presença perene de Lula – “ele estará sempre disposto a ajudar Dilma no que ela precisar” – e enviou uma mensagem a interlocutores genéricos: “Há uma parceria entre Dilma e Lula que ninguém quebra.”
Ninguém quebra? Se Marta tiver razão, Dilma não será, jamais, a “presidente de todos” – e não será nem mesmo a chefe de uma facção. Mas ela pode estar errada, pois a infalibilidade é um atributo exclusivo de Lula. Nessa hipótese, para o bem da democracia, o Brasil terá uma presidente, não um governo subterrâneo.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 06/01/11
O impressionante crescimento africano
Confira:
Mais em:
http://www.economist.com/blogs/dailychart/2011/01/daily_chart?fsrc=scn/tw/te/bl/dailychartafrica
Sunday, January 2, 2011
Menos intervenção, menos grupos de pressão
Como escrevi em post anterior, inicio minha análise pela última lição das seis trazidas pelas palestras de Mises em Buenos Aires. Nesta lição, intitulada Política e Ideias, Mises trata de uma mudança ocorrida na forma como atuam os membors de parlamentos em todo o mundo.
Menos intervenção, menos grupos de pressão
É notório que deputados, no Brasil assim como em todo o mundo, na maior parte das vezes defendem corporações e grupos de pressão. É corrente a crítica de que o Congresso Nacional brasileiro já não possui mais grandes tribunos, não discute temas nacionais, resigna-se em discutir temas paroquiais e que pouca repercussão terão no país como um todo. Talvez o melhor sinônimo que eu vi para deputado federal tenha sido vereador federal: o representante do povo que está em Brasília, antes de estar com seus olhos voltados para o conjunto da sociedade, recebe diariamente em seu gabinete demandas de setores muito específicos da sociedade, quando não, inclusive, de indivíduos preocupados com problemas quase pessoais.
A intenção inicial, porém, dos idealizadores da democracia liberal e do fortalecimento de um Parlamento como verdadeiro fórum de debate e deliberação permanente acerca dos rumos de uma nação, está muito distante do que aquilo que hoje ele representa. A ideia de que deputados, senadores e mesmo vereadores fossem eleitos para discutir temas de relevância para o conjunto de uma comunidade era, na época, indiscutível. Na política sempre houve divergência, partidários de ideias distintas, concepções de mundo diversas. Contudo, a eleição de um representante para uma determinada comunidade, ainda que se desse após o enfrentamento de uma oposição considerável nas urnas, significava que aquele homem estava destinado a levar ao Parlamento a opinião da comunidade como um todo e, lá, também legislar e deliberar de acordo com as convicções a que tivesse chegado depois de analisar os melhores caminhos para promover o bem comum de sua comunidade e de toda a sociedade.
Quando, porém, esse quadro se alterou?
Mises argumenta que o poder econômico e a força das corporações, dos setores empresariais, passaram a realmente se entranhar no seio dos parlamentos à medida que a intervenção estatal na economia crescia. É curioso este ponto de vista porque, normalmente, aqueles que combatem a influência do poder econômico nas decisões do poder político buscam argumentar o contrário: defendem que o Estado intervenha crescentemente na economia para que, teoricamente, a população se beneficie e os empresários percam sua influência. Nada poderia estar mais distante da realidade.
Mises defende com muita clareza a anterioridade da intervenção do Estado na economia, que não consegue resistir à tentação de exercer seu poder para contornar crises momentâneas, à existência dos grupos de pressão. Como consequência desta ânsia governamental em resolver problemas que não seriam seus, organizam-se setores empresariais em grupos para, nos parlamentos, construírem uma base de apoio de deputados que defendam seus interesses (afinal de contas, independentemente da forma como o Estado vier a intervir na economia, justamente por ter se quebrado a lógica do livre mercado, haverá sempre alguém disposto a propor uma intervençãozinha a mais aqui, ou a menos ali; ou mesmo algum outro setor que não foi beneficiado pelas medidas tomadas que estará sequioso de uma ajudinha governamental para turbinar - ou tirar do fundo do poço - seus negócios).
Pronto. Os parlamentos deixam de representar o conjunto da sociedade. Seus membros, em virtude da constante intervenção estatal na economia, acabam sendo procurados, incessantemente, por aqueles que querem influir no processo de intervenção. Quem pode mais, leva mais. E, assim, aquela instituição chamada Congresso, que deveria congregar todos os interesses mais altos e dignos das parcelas da população que seus membros representam, acaba se tornando um aglomerado de vereadores federais, cada qual buscando defender setores econômicos específicos.
Assim, como vemos acontecer muito aqui no Brasil também, deputados de partidos diferentes por vezes encontram mais afinidade entre si por defenderem setores econômicos afins ou mesmo idênticos, do que encontram entre si deputados de um mesmo partido. Mises, neste aspecto, é categórico: "Hoje, (...) não existem partidos políticos autênticos, no velho sentido clássico, mas tão-somente grupos de pressão. [Trata-se de] grupos de pessoas desejosos de obter um privilégio à custa do restante da nação".
Pessoalmente, esta é uma das minhas maiores decepções com a política nacional. Já tive uma experiência vasta na área, inclusive trabalhando em Brasília, e percebi com nitidez colossal que temas nacionais são o que menos interessam aos deputados - justiça seja feita àqueles que chegam a ser eleitos com a proposta de debatê-los de verdade, além do próprio sistema, o rolo compressor do Poder Executivo nacional sobre o Parlamento também concede margem quase irrisória para que tais temas sejam colocados em pauta.
Como diz Mises, "só uma coisa não está representada no legislativo: a nação como um todo".
Eu costumava pensar que o voto distrital mudaria tal situação. Em relação a este ponto específico dos grupos de pressão, contudo, ao transferir à intervenção do Estado a culpa pela alteração do foco dos parlamentares do bem comum para a defesa de setores específicos, Mises deixa claro, em outras palavras, que o sistema eleitoral pouco tem a ver com a solução. Eu continuo um defensor incondicional do sistema distrital de voto, não me compreendam mal - o sistema proporcional só piora a situação; sobretudo se um dia implementar-se a tal lista fechada. No entanto, ao concluir a leitura de Mises, só é possível chegar a uma conclusão: para gradativamente retornarmos à proposta original dos Parlamentos como a concreção dos valores e ideias que redundem no bem comum, não na defesa de inúmeras diferentes propostas apresentadas por grupos de pressão particulares, o único caminho possível é a diminuição da intervenção estatal na economia.
P.s.: por tratar todo o livro de Mises apenas sobre a intervenção econômica - e por questão de espaço - não falamos sobre o surgimento de grupos de pressão fora da esfera econômica que se proclamam representantes de minorias. É evidente que eles também tem influência considerável e não os ignoramos. Não têm, porém, relação com as palestras de Mises.
Saturday, January 1, 2011
Primeiro post de 2011
2010 foi um ano, para mim, bastante bom. Politicamente, concorrer pela segunda vez a deputado estadual no Rio Grande do Sul e obter a expressiva quantidade de 14.068 votos deixou-me muito satisfeito. Também deu-me a segurança de que as ideias que defendo tem eco na sociedade e uma campanha limpa, sem grandes investimentos financeiros mas com muito idealismo é possível. Além disso, grandes amizades foram feitas neste período, sem contar os inúmeros contatos feitos Rio Grande e Brasil afora.
2010 também foi o ano de uma rica experiência na Universidade. Eleita no final de 2009, a chapa do Movimento Estudantil Liberdade da UFRGS venceu uma disputa desigual contra históricos movimentos de esquerda radical. No ano passado, já como diretoria constituída, conseguimos ao longo do mandato implementar várias mudanças. Como diretor de relações institucionais, pude pessoalmente me envolver no contato com pessoas e instituições que pudessem auxiliar neste processo de aproximar a entidade dos estudantes. Uma pena que o mandato de apenas um ano e o imbróglio das eleições de 2010, que uma vez mais foram parar na Justiça, acabaram interrompendo momentaneamente a continuidade deste projeto.
Para 2011, as expectativas são, desde já, muito grandes. Quero trabalhar mais do que nunca com a divulgação de ideias. Atualizar com frequência este blog e buscar atuar com mais ênfase na área que escolhi como profissão - relações internacionais - e aproveitar meu conhecimento e experiência na política. Ainda é cedo para explicitar todas as minhas intenções para 2011 - muitas delas, aliás, irão surgindo naturalmente. Mas é certo que estarei sempre atento para trabalhar com correteza e levando a informação a todos por aqui e pelas mídias sociais com credibilidade e opinião.
Vivemos em uma época muito dinâmica e na qual o relacionamento pessoal é fundamental. Paradoxalmente, é a internet - onde o contato evidentemente se dá por meio de mouse, monitor e teclado, não pelo aperto de mãos e o tête-à-tête - que nos permite uma aproximação com o nosso público como jamais visto. Ser ao mesmo tempo um profissional sério e competente mas sem medo de ser autêntico e de ter opinião é um desafio para cada um de nós.
2011 será mais uma vez um ano de quebras de paradigmas. Tenho certeza de que estarei na linha de frente para ajudar a explicitar estas quebras, quando não para promovê-las.
Um abraço, feliz 2011!