Sunday, April 19, 2009

A família é o mais importante

Nesta semana tivemos uma aula muito bonita do que é tomar decisões em momentos difíceis. Ao invés de um professor, no entanto, quem deu-nos a lição foi um colega nosso.
Raul Strauss, administrador boliviano e um dos mais entusiasmados colegas do nosso curso, é presidente de uma associação empresarial em seu país e tem se destacado por suas posições em favor da democracia toda vez que Evo Morales, presidente daquele país, atenta contra as instituições - o que ocorre com assustadora freqüência. Strauss tem uma característica especial: toda vez que fala, além de transmitir seu enorme carisma, fala com uma emoção de quem tem paixão por tudo que defende. Ainda que seja uma conversa informal, se percebe logo que o que defende é sincero e comprometido com o que acredita.
Nos últimos dias, contudo, sua preocupação era perceptível. Da Bolívia, as notícias de que sua esposa, no terceiro mês de gravidez, teve um descolamento de placenta, deixavam-no cada vez mais pensativo. Casado há pouco tempo, sem filhos, preocupou-se ainda mais com a notícia de que a segunda opinião que solicitaram a outro médico confirmara o primeiro diagnóstico.
Decidindo-se entre permanecer em Washington - sonho de anos seu e dos seus pais, que nunca tiveram oportunidade de pagar estudos para ele no exterior e estavam orgulhosíssimos pela conquista da sua bolsa - e voltar imediatamente a Bolívia para amparar sua esposa, ficou com a última opção. Ontem, levamos-no ao aeroporto. Resta apenas um mês e meio para o final do programa e o clima aqui agora está começando a ensolarar. Além disso, a perspectiva de recebermos nossos diplomas está cada vez mais próxima e a oportunidade de estar aqui, visitar tantas instituições da mais alta importância e conhecer autoridades que jamais poderíamos imaginar conhecer, é uma oportunidade imperdível. Bem, até certo ponto.
Raúl tomou a decisão correta. Independente de quem ou de quê conheçamos, do que fizermos ou do conquistemos, o que vale mesmo, aqui neste mundo, é a família. Apesar de tudo o que deixa Raúl para trás aqui, demonstrou para nós que saber valorizar aqueles que sempre nos valorizaram é fundamental. E, por isso, tenho certeza de que será não apenas um grande líder no seu país, fundamental para que a Bolívia, o quanto antes, seja um país em que prevaleçam as instituições democráticas e as liberdades, como também servirá de exemplo para todos os alunos de diferentes países latino-americanos presentes neste Programa.
E o mais bonito dessa historia foi que quem nos deu a licao foi um colega nosso, nao um professor. Nos momentos difíceis se provam e se forjam os verdadeiros líderes.

Monday, April 13, 2009

Sobre o voto eletrônico - Venezuela e Bolívia

Nós, brasileiros, confiamos bastante - talvez demais? - no voto eletrônico. Temos independência entre os Poderes e as denúncias de fraude em urnas eletrônicas são muito poucas e localizadas - lembro na época das eleições de denúncias em Roraima ou Amazonas de que um técnico do Tribunal Regional Eleitoral teria supostamente tentado vender por R$ 400 mil uma vaga ao Senado fraudando o sistema e outra da região Nordeste publicada inclusive na Veja.
Não digo que não seja possível a fraude em nossas urnas - muito menos que não haja muita gente que tenha a intenção de fraudá-las. Contudo, somos tão orgulhosos do sistema brasileiro de votação que nos perguntamos, quer dizer, a mídia se perguntava e nós a reboque, por que os americanos também não o utilizam quando deu o fiasco da recontagem dos votos na Flórida na primeira eleição de Bush, contra Al Gore.
Quando se refere à Bolívia ou a Venezuela, porém, a situação é outra. Chávez já tem controle sobre o Legislativo e o Judiciário. Seu perfil truculento e manipulador não só faz suspeitar de que possa fraudar o sistema como causaria estranheza se se descubrisse que as eleições por lá são 100% legítimas.
Um fato para corroborar esta pequena "suspeita" é a insistência do caudilho cocaleiro Morales em implantar o sistema na Bolívia. Acompanhe abaixo artigo sobre o assunto de Eneas Biglione, diretor-executivo da Fundação Hacer, sediada em Washington/DC (www.hacer.org)

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Bolivia: Padrón biométrico, el AS bajo la manga de Evo Morales

por Eneas Biglione *

No conforme con una ley electoral favorable a los designios del Movimiento al Socialismo (MAS), Evo Morales busca ahora imponer en Bolivia un sistema de padrón biométrico particularmente similar al de Venezuela, en el nombre de la modernización y el avance tecnológico. Pero analizando las características de la experiencia venezolana, podremos entender que esta medida, en caso de ser ratificada, quitará todo vestigio de transparencia de los comicios bolivianos, arrebatando de una vez y para siempre el control electoral de las manos del pueblo y de los partidos opositores, dejando el futuro del país a la sola discresión de un grupo “muy especializado” de ingenieros en sistemas.

Según Smartmatic, la compañía creadora del Sistema Automático de Votación (SAV) combinado con un padrón biométrico, éste fue instaurado con el objetivo de “facilitar de manera transparente y segura el derecho a sufragio”. Pero en terminos prácticos, el gobierno Venezolano guarda celosamente los detalles acerca de su funcionamiento. Tal información se encuentra reservada a su fabricante y a los miembros de la Comisión Nacional Electoral (CNE). En consecuencia, luego de emitido el voto, el sistema lleva a cabo un número desconocido de cálculos y procesos supuestamente destinados a acopiar, transmitir y totalizar el número de votos, dejando el futuro de Venezuela eternamente en manos de la “buena fe” del gobierno.

En ese aspecto interesa considerar las preocupantes conclusiones del informe del Grupo de Seguimiento Técnico (GST) que a duras penas intentó auditar el funcionamiento del SAV para las elecciones presidenciales de diciembre de 2006 en Venezuela. En dicho informe, el GST indica que la CNE le ha impedido llevar adelante una auditoría formal, ya que ha obstaculizando el acceso a la información basica requerida por un ente auditor, manteniendo en secreto entre otras: el listado completo de máquinas de votación y servidores de acopio de la información, los procedimientos para el desarrollo de las aplicaciones y los nombres y roles de los funcionarios que toman parte en el proceso.

En el referido informe, el GST enumera un significativo número de irregularidades técnicas en el sistema, entre las que cabe destacar: la utilización de memorias removibles (pendrives, que incrementan la posibilidad de alterar indebidamente la información) y la inexistencia de garantías de que la clave requerida para la transmisión de datos no sea informada a personal no autorizado. Finalmente, el informe del GST destaca que el sistema de captación de huellas digitales, destinado en principio a identificar impostores, transmite la información del votante identificado junto con su voto, lo que claramente acaba con el elemental secreto de sufragio.

¿Por qué debería el pueblo boliviano poner su futuro en manos de un sistema tan perverso y cuestionable? Un sistema que ha resultado a menudo duramente criticado por los expertos internacionales en materia de seguridad, por haber posibilitado la realización de fraudes incluso en el ámbito bancario.

En Venezuela, el sistema biométrico ha venido jugando un rol fundamental para los fines totalitarios de su gobierno desde su instauración en el año 2004. En breve seremos testigos si el AS bajo la manga de la administración Morales consigue su único objetivo: eliminar definitivamente la transparencia de los comicios y lo poco que queda de democracia en el nombre de la modernización del padrón electoral.

* Eneas Biglione es director ejecutivo de la Fundación HACER en Washington DC.

Saturday, April 11, 2009

Comitê de Pureza Racial discrimina auto-declarada parda


Pronto, a notícia que esperávamos chegou: o sistema de cotas acaba de instaurar um comitê de pureza racial - isso mesmo! - na Universidade Federal de Santa Maria. Poucos dias depois do nosso presidente da República trombetear que a crise econômica é responsábilidade dos loiros de olhos azuis, agora lê-se na ZH deste sábado, 11 de abril de 2009, que uma aluna já matriculada na Federal de Santa Maria foi chamada para uma reunião a portas fechadas para ser interrogada, humilhada e avisada posteriormente de que sua vaga não poderia mais ser chamada de sua.

Se o "julgamento" o tal Comitê de Pureza Racial - assim mesmo, sem aspas, e não me chamem de politicamente incorreto! - foi de que não merecia vaga porque Tatiana jamais sofrera preconceito, agora sim ela pode dizer que o sofreu. E bem sofrido. Acompanhe a notícia a seguir:

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Tatiana se diz parda, mas UFSM discorda e cancela vaga

Matrícula foi cancelada em menos de um mês de ano letivo



A permanência de Tatiana Oliveira, 22 anos, dentro da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), depois da aprovação no vestibular 2009 para o curso de Pedagogia, não durou um mês. Ela começou o ano letivo no dia 9 de março e, na terça-feira passada, foi comunicada que sua matrícula foi cancelada. No centro da discussão para a perda da vaga, está o sistema pelo qual ela foi aprovada: ela se inscreveu como cotista afro-brasileira.



Logo depois da aprovação, Tatiana entregou os documentos que a UFSM exige dos futuros alunos. No caso dos cotistas afro-brasileiros, é necessária uma autodeclaração do aprovado dizendo que é negro ou pardo. Tatiana fez o que foi pedido e começou as aulas normalmente. A surpresa veio no dia 18 de março, quando ela foi convocada para comparecer a uma entrevista na reitoria.

Segundo Tatiana, na reunião estavam sete pessoas, três negras. Por alguns minutos, eles a teriam questionado sobre sua raça, se já havia sofrido preconceito e o porquê da opção pelo sistema de cotas. Tatiana, filha de branca e pardo e neta de negro, respondeu:

– Eu falei que me considero parda. Menos parda do que meu pai, porque minha mãe é branca. Respondi que nunca sofri preconceito e que escolhi me inscrever no sistema de cotas porque ele dá chance para que nós, de cor parda, possamos ingressar na universidade. Falei a verdade – diz Tatiana.

Depois da entrevista, ela foi comunicada pela coordenadora do seu curso que a sua matrícula foi cancelada. A decisão revoltou Tatiana e sua mãe, a técnica em Enfermagem Adriana Oliveira.

– O que a UFSM quer? Que só entre quem já sofreu preconceito? Ninguém aqui usou de má fé para conseguir uma vaga. A Tatiana só se inscreveu por cotas porque entendemos que era um direito dela. Mas, pelo jeito, agora teremos de definir a cor da minha filha na Justiça – indigna-se Adriana.

Para pró-reitor, Tatiana nunca se considerou parda

Conforme o pró-reitor de Graduação, Jorge Luiz da Cunha – que assina os documentos de cancelamento de vaga –, nos casos em que há dúvida sobre o que o aprovado declarou – em qualquer uma das modalidades de cotas: afro-brasileiro, estudante de escola pública, portador de deficiência ou indígena –, ele pode ser chamado depois de já estar cursando a faculdade. Esses alunos são submetidos a uma entrevista com representantes da Comissão de Implementação e Acompanhamento do Programa de Ações Afirmativas de Inclusão Racial e Social da UFSM.

No caso de Tatiana, a avaliação da comissão é que a estudante nunca se considerou afro-brasileira.

– Ela respondeu que nunca sofreu discriminação, que nunca se considerou parda, que se considera mais clara que outros integrantes da sua família, e que, no vestibular, foi a primeira vez que se disse “parda”. Partindo do espírito das políticas de ações afirmativas, a comissão, que inclusive tem representantes do Movimento Negro, entendeu que ela não se sente participante desse grupo – destaca Cunha.

Segundo ele, outros alunos, neste ano e no ano passado, quando o sistema de cotas da UFSM foi implantado, já tiveram suas vagas canceladas em função de não conseguirem comprovar sua condição. Outros processos estariam em andamento. O pró-reitor não soube precisar quantos casos de cancelamento já ocorreram. No mesmo dia em que Tatiana foi avaliada, outros oito foram chamados para entrevista.

Na segunda-feira, a família de Tatiana pretende ir ao Ministério Público Federal para tentar reaver a vaga.

– Tudo o que eu quero é que isso seja resolvido e que eu consiga minha vaga de novo – desabafa Tatiana.

fernanda.mallmann@diariosm.com.brFERNANDA MALLMANN

Link: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2472712.xml&template=3898.dwt&edition=12078§ion=1003

Wednesday, April 8, 2009

Liderança Jovem do PP Gaúcho Espera Coligação com o PSDB à Presidência em 2010

 

Marcel van Hattem, presidente licenciado dos jovens Progressistas gaúchos e 2o secretário da JP encontrou-se na noite passada com o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em Washington, DC. FHC ministrou aula para jovens do curso de Mestrado em Relações Exteriores da Universidade de Georgetown e Marcel, que participa junto com Germano Guimarães, secretário geral da juventude do PSDB do Estado de São Paulo de um Programa para jovens líderes latino-americanos, aproveitou para falar com o líder tucano após o evento. "Minha vontade pessoal é de que o PP coligue-se com o PSDB nas próximas eleições presidenciais", disse Marcel. "Sempre fui contra a participação do PP no governo Lula e creio que a melhor solução para o país estará em uma coligação com a presença dos tucanos e dos progressistas", adicionou. FHC elogiou a iniciativa dos jovens. Germano Guimarães, da juventude tucana paulista, concordou. "O PP foi um ótimo parceiro no governo FHC, e somará bastante nas próximas eleições presidenciais", afirmou. "Acho importante o diálogo entre os dois partidos com vistas às próximas eleições e acho que o PP já está caminhando para isso sob a presidência do Senador Francisco Dornelles", disse o ex-presidente sobre uma eventual coligação.

Redação JPG
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Monday, April 6, 2009

FHC fala sobre Drogas e Democracia

 

Hoje fomos ao instituto Brookings ouvir uma conferëncia que nos deu o ex-presidente FHC. Falando sobre o tema Drogas e Democracia (Drugs and Democracy), FHC co-preside a Comissão Americana sobre o assunto que lançou há poucas semanas um relatório em que defende uma mudança de paradigma no combate à droga. A palavra chave, segundo ele, é "descriminalizar" o uso pessoal, não legalizar a droga poderia acarretar a idéia de que drogas sejam boas. O instituto trouxe também debatedores que discordam desse posicionamento de FHC, como por exemplo John Walters, que foi chefe do departamento anti-drogas dos EUA. Eu considero contraditório o discurso de descriminalizar o consumo, que está no lado da demanda, sem ver o que passa no lado da oferta, do tráfico ilegal. O documento da Comissão de FHC é assinado também por Ernesto Zedillo, ex-presidente do México, e César Gaviria, ex da Colômbia - este último também presente no evento. Por mais que eu discorde da idéia da descriminalização defendida por FHC, sobretudo se não se percebem todas as implicações na segurança e saúde pública que podem acarretar, considero o debate muito importante pois as drogas são, certamente, um dos maiores problemas que temos no nosso continente, desafiando inclusive nossas democracias, e precisamos encontrar soluções para o combate. E, sem dúvida nenhuma, inspirou-me para estudar mais sobre o assunto para poder avaliar todos os prós e contras tanto da criminalização e repressão como no caso de uma eventual legalização das drogas.
 
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Wednesday, April 1, 2009

Aula com DOIS presidentes

 
Hoje foi o dia mais surpreendente de todos os que tivemos até aqui. Tanto que não poderia deixar de registrá-lo neste blog. Tivemos na mesma sala a oportunidade de ter uma aula com dois ex-presidentes: Andres Pastrana, da Colômbia, e José María Aznar, da Espanha. Aznar nos contou que esteve com Pastrana à tarde em algum evento em Washington e acabou conseguindo trazer ele ao nosso encontro. Tema do encontro: Plano Colômbia. Parêntesis: o Plano Colômbia iniciou no governo Pastrana e trata-se de uma parceria entre os governos norte-americano e colombiano para combater a droga no país que é maior produtor mundial de cocaína.
Anotei o tudo o que pude em meus cadernos sobre o que foi dito em aula com uma avidez que surpreendeu a mim mesmo. Além do interessante que é o tema, o debate que se gerou com duas pessoas que foram partícipes ativas no cenário político mundial foi algo inesquecível e que merecia registro. Como há liberdade de cátedra na Universidade, vou restringir-me aqui ao óbvio e entrar pouco em detalhes no que foi dito por ambos - o que não me impede de falar pessoalmente com alguém que se interesse sobre algum outro aspecto relevante abordado.
 
Os resultados do Plano Colômbia apontados como tangíveis pelo presidente foi o fortalecimento das Forças Armadas e a parceria alcançada com americanos e europeus. Estratégia número um para erradicar a droga: atacar os bolsos dos traficantes agindo diretamente sobre a fonte da droga. Para isso, achar um produto agrícola substituto para os camponeses é fundamental. Depois, a instituição de programas sociais para as famílias pobres do campo, tanto para jovens, como para a família deles - pareceu bastante com as bolsas de FHC e Lula. Contudo, atacar a produção sem golpear a demanda não adianta muito. Os países do primeiro mundo, por isso, precisam fazer mais campanhas contra o uso das drogas - coisa que, de fato, aqui nos EUA pouco se percebe.
Outro ponto interessante tocado foi a proposta de descriminalização das drogas, e aí houve dois pontos de vistas muito interessantes de ambos, que são contra esse tipo de solução. O primeiro, de Pastranas, é que descriminalizar poderia gerar uma epidemia, ou seja, um consumo tão grande de drogas que fugisse ao controle do governo e da própria população o seu uso e o tratamento da dependência. O segundo, argumento, este de Aznar, é que não adianta haver descriminalização apenas em um ou meia dúzia de países. Se fosse de fato descriminalizar, deveria ser geral pois não há como descriminalizar o lado da oferta e manter como crime nos países com alta demanda e vice-versa.
Dois pontos de vista, convergentes em alguns pontos e divergentes em outro, mas, sobretudo, dois pontos de vista de dois homens que foram presidentes de seus países e a quem tivemos a honra de ouvir e de fazer as perguntas que quiséssemos sobre um tema tão importante para toda a América Latina.
 
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