Tuesday, February 24, 2009

Venezuela: "há liberdade de expressão mas todos se sentem vigiados"

Publico hoje aqui em meu blog artigo/entrevista com Raúl Fonseca, colega da Venezuela, sobre o referendo que ocorreu em seu país no domingo passado. O texto foi publicado no Jornal Dois Irmãos de sexta-feira, 20.

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Venezuela: "há liberdade de expressão mas todos se sentem vigiados"

Uma das maiores vantagens de se estar aqui em Washington com jovens de tantos países diferentes é a convivência e a troca de experiências. São argentinos, peruanos, equatorianos, colombianos, bolivianos, brasileiros, espanhóis, mexicanos, chilenos, um português, um venezuelando, uma panamenha e uma nicaragüense. Como cada um está ligado mais especificamente no que está acontecendo em seu país pela internet, e todos sabemos mais ou menos o que está acontecendo em toda a América Latina por causa do noticiário internacional de nossos jornais locais, é muito interessante poder imediatamente comentar as últimas notícias entre nós.

Não preciso dizer que, durante a semana, a notícia mais importante da região foi a vitória de Chávez no referendo que houve domingo na Venezuela. Raúl Strauss, administrador de empresas boliviano, disse-me que está preocupado. “Quando Chávez consegue uma aprovação como essa, logo a idéia chega à Bolívia”, disse-me na segunda-feira. Dito e feito. Na terça-feira já lia eu na edição online da Zero Hora que o MAS, partido do presidente da Bolívia, Evo Morales, também queria propor uma emenda à Constituição na Bolívia. O engenheiro José Alvaró Benages, que divide apartamento comigo em Arlington, na Virginia (a cidade fica do outro lado do Rio Potomac, que separa o Estado da Virgínia do Distrito de Columbia, onde fica Washington), também demonstrou preocupação.

Aproveitei o momento para fazer uma rápida entrevista com Raúl Fonseca, 30 anos, administrador de empresas e nosso único colega Venezuelano.

 

Marcel - A vitória de Chávez no domingo é reflexo de quê?

Raúl Fonseca – Falta consciência e compromisso dos Venezuelanos. A diferença foi de mais de um milhão de votos, apesar de ter aumentado o voto no não em relação ao último referendo (no qual o não havia ganho, há dois anos). É preciso que os esclarecidos levem mais a sério seu direito a voto, que não é obrigatório na Venezuela.

Como Chávez chegou ao poder?

A população queria rechaçar os 40 anos de corrupção que havia nos governos anteriores, em que governava a elite, pessoas mais educadas e esclarecidas.

E não há corrupção agora?

Comprovadamente há muito mais, mas muitos chavistas pensam, “já que roubaram tanto antes, agora é a nossa vez de roubar”.

Chávez não investiga a corrupção?

Ele diz que sim, que é uma herança que recebeu do passado, mas nunca demite ministros comprovadamente corruptos. A corrupção está mais institucionalizada e ele está conseguindo tornar a regulação inexistente.

Qual a estratégia eleitoral de Chávez?

Dividir a população.

Como assim?

Hoje a identidade é muito mais entre pobres e probres e entre ricos e ricos. É uma forma segura de conquistar votos, separando a sociedade em classes para identificar melhor o inimigo.

E a liberdade?

Está constantemente atacada. Há liberdade de expressão, mas todos se sentem vigiados.

E a oposição a Chávez?

Cometeu muitos erros, silenciou-se e está jogando o jogo dele ao dividir a sociedade entre pró- e antichavistas. Apesar de o processo do referendo ser frauduleno, perderam a oportunidade de demonstrar que Chávez é vulnerável e de mobilizar a sociedade civil para votar contra a reeleição ilimitada. O que mais me preocupa é que, com ou sem reeleição, o sistema que Chávez implantou na Venezuela tenha tanto apoio. Deveríamos ter demonstrado que somos nós, defensores da democracia e da liberdade, a maioria.
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Friday, February 20, 2009

Quinta-feira internacional

 
Hoje pela manhã - na verdade ontem -, participamos da Quinta-feira Internacional (International Thursday) da Atlas Economic Research Foundation, que defende o livre-mercado como ferramenta para promover sociedades livres e a liberdade no mundo. Tive a felicidade de encontrar-me pessoalmente com Yiqiao Xu, diretora de programas da Atlas, e com o presidente da organização, Alex Chafúen, que está na foto mais abaixo. Conheci os dois em um excelente seminário organizado por Heitor de Paola em São Paulo sobre Democracia Liberal - uma pena que não houve mais edições. Já estou agendando com o Sr. Chafúen um dia para entrevistá-lo e publicar aqui no meu blog suas impressões.

Hoje pela manhã - na verdade ontem -, tivemos três palestrantes na sede da Atlas. A primeira foi a russa Tatiana Kryzhanovskaya, Doutora em Geopolítica e Geografia Econômica pela Universidade de Astrakhan (Rússia). Ela apresentou um pouco da crise global do ponto de vista do seu país, citando a política de demissão de estrangeiros sustentada pelo governo, como no exemplo dos chineses que trabalham na Sibéria. A situação da Rússia está bastante crítica, com uma indústria automotiva obsoleta - o Lada continua sendo fabricado, ao custo de US$ 10 mil dólares, mesmo valor segundo Tatiana de um Ford Focus no país -, e as liberdades estão muito restritas. A imprensa, por exemplo, está toda controlada pelo governo e think tanks simplesmente não existem.
O mais interessante - e triste - dos seus relatos, foi o de que apenas 5% da população russa hoje têm de fato consciência do que está acontecendo no país, governado autocraticamente por Vladimir Putin há mais de uma década, e que, por isso, não tem capacidade de alterar o quadro no curto prazo. Este percentual refere-se aos jovens que nasceram entre 1978-1984 e viram o comunismo ruir e souberam o que era a democracia no país sob o governo Yeltsin. "They experimented the change from what we had (democracy) to what we are going to have (autocracy)". Perguntada sobre qual seria sua primeira atitude se fosse primeira ministra, respondeu: enforce the rule of law.

Sobre os demais painelistas vou escrever amanhã. Os assuntos foram interessantes: política energética argentina, a guinada à direita do espectro político israelense e os desafios para a segurança na América Latina, com três especialistas nas respectivas áreas. Amanhã também postarei um texto sobre a conferência de que participamos hoje na sede do Banco Interamericano de Desenvolvimento sobre Energia Renovável, na qual debateram eminentes figuras chilenas, bolivianas, colombianas e norte-americanas sobre este assunto que tem se popularizado cada vez mais. Vou encerrar o expediente por aqui pois amanhã temos aulas em Georgetown das 9:30 às 19:30, e já são quase três da manhã.

 
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"Nosotros somos milagristas"

Beeck falou ainda sobre os desafios para a democracia na América Latina. "Eu costumava pensar que poderia abrir mão de um pouco de democracia se tivesse melhores resultados econômicos. Hoje, não abro mão da democracia de jeito nenhum. O caminho, então, é investir em educação para que a população saiba utilizar bem a democracia", disse. O problema, é que somos "milagristas". "Temos dificuldade em pensar no longo prazo. Por isso, precisamos criar uma cultura de valorização da estabilidade, que é o maior desafio da América Latina. Não quero que mudem as regras do jogo enquanto estou jogando ele".

E, mais adiante, disse preferir acordos bilaterais. "O Peru começou a buscar acordos bilaterais perguntando-se: 'com quem nos convém mais negociar?' Isso é mais importante que a integração da América Latina - e não adianta haver integração se não tivermos estabilidade, democracia e educação. E, nesse sentido, estamos andando para trás, sobretudo se vemos a geração que está se perdendo em um país como a Venezuela".

Sobre a crise econômica mundial, sua opinião é de que ela está aí por que a situação que a gerou foi muito mal conduzida. "Infelizmente, mesmo contra meus princípios, digo que o governo tem de interver na economia. Haverá uma inflação tremenda - espero que não -, mas não há outra saída", frisou, para encerrar dizendo que há uma falta de credibilidade atualmente em todo o sistema.

Encontro com o presidente do Latin American Board

 
Na quarta-feira à tarde esteve conosco o presidente do Latin American Board, Alberto Beeck, que até setembro do ano passado era diretor executivo da Cementos Pacasmayo, do Peru. Em seu currículo está a participação nos conselhos de administração e na direção de várias entidades financeiras internacionais, o que fez com que, apesar de latino-americano, tenha vivido desde os 16 anos sempre fora do seu próprio país. Como presidente do Latin American Board de Georgetown, seu objetivo é contribuir com seu país de origem, o Peru, e a América Latina incentivando a formação de novas lideranças capazes de acelerar o desenvolvimento social, econômico e político da região.

"Georgetown tem algo muito peculiar, que é ter uma alma, uma alma de responsabilidade social", disse ele. "O que vocês estão fazendo aqui, este contato mútuo dentro da turma, deve ir além das amizades: vai construir laços duradouros entre os países da América Latina - e escolhemos justamente jovens para estudarem aqui porque a minha geração, por exemplo, foi perdida. Vocês são o futuro da América Latina".

 

Liderança é excelência
"Em uma palavra, para mim, liderança é excelência. É ter princípios e saber escutar os melhores, escutar aqueles que são melhores do que nós para saber como agir, afinal, não há como liderar com autocracia nem por consenso", disse Beeck. E, para atingir a excelência é preciso ter três coisas: estratégia, vontade de trabalhar e saber se comunicar.

"É necessário que se tenha classe, e isso é algo que não tem a ver nem com dinheiro nem com sobrenome. Para mim é uma alegria estar aqui com vocês, manter contato com pessoas jovens e compartilhar experiências. Estou investindo e ajudando a investir no futuro da Região. Vocês têm uma grande responsabilidade e quero que não regressem ao final deste Programa aos seus países pensando apenas em ganhar dinheiro ou em prestígio político. Quero que tenham um impacto nas suas comunidades, que ensinem o que aprenderam a outros jovens. Esta é a única forma de fazermos a mudança que queremos para a América Latina.
 
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Thursday, February 19, 2009

"A América Latina precisa de políticas sociais inteligentes"

 
Hoje pela manhã estivemos no Cato Institute, onde o professor Francis Fukuyama (autor de inúmeros obras sobre relações internacionais) falou sobre a mais recente publicação sua em que escreve, junto com colaboradores, sobre gap que existe entre a América do Norte e a América Latina. Basicamente, Fukuyama apresentou um apanhado histórico dizendo que a América Latina iniciou de fato o seu desenvolvimento a partir de 1870 mas que sempre teve problemas relacionados aos direitos de propriedade, ao rule of law - ou ao Estado de Direito, mas é certo que o conceito de anterior em inglês é mais amplo que o último, em português - à inestabilidade de suas instituições.
Para resolver o problema, ao invés de mais livre mercado - que, aliás, na parte destinada à palestra não foi nem mencinoado - seriam necessárias "políticas sociais inteligentes". "Os pobres merecem ajuda, mas esta ajuda precisa ser sustentável", disse o professor. Foi, contudo, muito infeliz ao citar o Programa Bolsa Família, do Brasil, como exemplo, ao descuidar do fato de que tal Programa é clientelista e de curto prazo e que, no médio e longo prazo estão apenas fazendo com que mais gente fique dependente do governo e prefira trabalhar na informalidade para continuar recebendo o benefício social. Argumentei ao final em particular com o professor a esse respeito e ele demonstrou pouco conhecimento no assunto para refutar minhas considerações e validar as suas - o que aumenta a irresponsabilidade de propagar em uma palestra em Washington para uma platéia de formadores de opinião a idéia mítica de que o Bolsa Família é um programa social inteligente sem ter de fato conhecimento de causa a respeito do assunto.
Contudo, descontada essa parte negativa da sua palestra, houve proveito de suas considerações a respeito de outras peculiariedades muito nossas, latino-americanas, como o tamanho das nossas constituições. "O artigo que trata dos direitos fundamentais no Brasil tem o tamanho de uma lista telefônica de uma cidade pequena. Isto é problemático: não há como um governo assegurar todos os direitos a todos e não é colocando esses direitos numa constituição que eles serão garantidos", ressaltou.
Após a palestra de Fukuyama, falou Norman Loayza, do departamento de Pesquisa do Banco Mundial. Esse sim dedicou mais tempo para falar do impacto que diferentes formas de mercado têm no desenvolvimento dos países. "Não são nem a geografia, nem a cultura, nem a religião, nem a dominação norte-americana que explicam o atraso latino-americano, mas uma combinação de políticas mal-conduzidas e de instabilidade institucional", disse Loayza. A maior parte do povo latino-americano não teve ainda grandes períodos de tempo de liberdade econômica nem de liberdade política, e isso desde a época em que foram colônia da Espanha ou de Portugal. "Há muitos séculos, houve o monopólio do mercado desses países por parte das metrópoles. Basta ver que durante o período de 1808 a 1814, quando Napoleão Bonaparte rompeu este monopólio, o comércio da América Latina floresceu e acabou levando à independência de quase todos os países poucos anos depois".
Loayza ainda citou alguns dados de países vizinhos antes e depois da abertura da economia de um deles. "Há 50 anos, os PIB per capita da Coréia do Sul e do Norte eram iguais e, hoje, a última tem só 8% do PIB per capita da primeira; Em 1975, Chile e Peru tinham o mesmo PIB per capita. Hoje, depois de o Chile decidir abrir sua economia e o Peru preferir fechar-se, o Peru tem apenas 35% do PIB per capita do chile", exemplificou.
Finalizando, disse que o caminho para diminuir a distância entre a América do Norte e a Latina vai enfrentar três desafios: consolidar as liberdades econômicas e desnvolver instituições que possam lhes dar apoio; a inclusão de parceiros privados no processo, a sociedade civil e empresas; e a existência de um novo gap que já está começando a separar Bolívia, Venezuela e Equador, com seus governos populistas e anti-mercado, e o restante da América Latina, incluindo México, Peru, Colômbia, Chile e Brasil.
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Saturday, February 14, 2009

Entrevista com Ricardo Ernst

 
Ontem entrevistamos o diretor acadêmico do Programa Global Competitiveness Leadership para a primeira edição da Newsletter do Grupo de 2009. Excelente para entender como se deu a criação do Latin American Board e o convite para a participação de figuras emblemáticas de diferentes países da América do Sul, Central, Norte e da Península Ibérica no referido Conselho. Ademais, muito interessante o envolvimento pessoal que tem no assunto o ex-primeiro ministro espanhol, José María Aznar. Em breve, publicarei aqui excertos da entrevista. Na foto, da esquerda para a direita e depois de mim, Raúl Strauss(Bolívia), Alisson (Bolívia), José de la Gasca (Equador), Ricardo Ernst (venezuelano naturalizado norte-americano) e Tania Karami Vidal (Mexico).
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Friday, February 13, 2009

"Culpar o mercado livre pela crise é como culpar a democracia por causa de um mau governante"

 
Hoje conhecemos pessoalmente o presidente honorário do Latin American Board - Conselho para a América Latina - de Georgetown, que promove o Programa de que participamos. José María Aznar, ex-primeiro ministro espanhol, falou durante pouco mais de uma hora e o principal assunto abordado foi também o assunto que não sai da boca de ninguém aqui nos EUA: a crise econômica global. Na verdade, está em pauta em todo o mundo, e bem por isso disse Aznar que a crise atual, surgida do mercado financeiro é a primeira crise econômica realmente global e que será sentida - e já se sente - de forma muito forte nos EUA e na Europa (em especial na Espanha e na Inglaterra), menos na Ásia, e de novo mais forte na América Latina, porém um pouco mais adiante. Pelas notícias que li na edição de ontem do Wall Street Journal, porém, o caso brasileiro já está se revelando problemático, sobretudo pelo desempenho industrial muito mais baixo de dezembro e o conseqüente desemprego. Por sinal, sem comentários à frase de Lula de que "a indústria brasileira nem deve mais produzir carros porque não há mais ruas".
As origens da crise, segundo Aznar, são basicamente duas: o excesso de liquidez e uma regulação deficiente, especialmente dos EUA. Contudo, ainda que não soubéssemos as origens da crise, o que precisamos é de solução a ela e, nesse ponto, Aznar foi claro: mais intervenção do Estado é uma das soluções propostas, porém ele prefere outra alternativa - a que dê mais abertura e liberalização do mercado.
 
"A palavra chave neste momento se chama confiança e recuperá-la é condição básica para que o sistema volte a funcionar saudavelmente", disse. "Por isso, para gerar confiança, a situação do sistema financeiro precisa ser recolocada às claras e o sistema financeiro precisa ser recapitalizado; e isso pode não acontecer se permanecer uma política de que se deva apenas intervir severamente na economia e não dar atenção ao mercado financeiro".
Outra preocupação de Aznar é que com a intervenção maior do Estado também acompanha o protecionismo e a utilização de barreiras protecionistas, neste momento, seria uma autêntico desastre: "se durante uma recessão se impede o livre comércio, gera-se um grande colapso no mundo. Não é razoável dar à economia livre a culpa da crise assim como não é razoável que a democracia seja culpada pelos maus governantes", reforçou, dizendo que à crise econômica seguem-se às crises políticas, sociais e de valores e que sairão da crise mais rápido aqueles que tem uma economia mais diversificada e os que tem líderes e estadistas que pensem no médio e no longo prazo. Ou seja, que consigam recuperar a confiança de sua população e que saibam transformar problemas em oportunidades.
 
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Wednesday, February 11, 2009

"As an ideology, Communism is finished"

 

[Como ideologia, o comunismo acabou] Hoje tivemos a oportunidade de ouvir a uma conferência dada pelo ex-presidente da Polônia por dois mandatos, de 1995 a 2005, Aleksander Kwaniewski. Ele foi membro da juventude de um partido comunista durante sua juventude e, quando assumiu o governo em substituição a Lech Walesa - que foi um dos grandes artífices da abertura da Polônia ao mundo, a quem derrotou nas eleições de 1995, temia-se que pudesse voltar-se mais à esquerda.

O que ocorreu foi o contrário: abriu o país mais à economia de mercado; privatizou empresas públicas improdutivas; assinou a nova Constituição pela qual trabalhou arduamente como Constituinte de 1993 a 1995, e que substituiu a antiga, comunista, que apesar de escrita em polonês tinha notas do próprio punho de Stalin escritas nas margens do documento original; não só incorporou o país à OTAN como incentivou e ajudou outros países das proximidades a fazer o mesmo; e, o que certamente inscreveu o nome de Kwaniewski na História, foi a incoporação de seu país à União Européia mesmo com a resistência de países como a Alemanha, em virtude do medo da imigração e do metafórico polish plumber, ou da Ucrânia, pela rivalidade histórica. Ou seja, de revolucionário a reconciliador.

Fizemos várias perguntas a ele, vou postar algumas delas aqui. Iniciei o questionário da turma perguntado sobre o que ele pensa sobre o avanço do populismo e esquerdismo na América Latina depois de ele ter sido fundamental para virar as tristes páginas do passado comunista polonês, tendo em vista que os principais partidos de esquerda da América Latina estão organizados no Foro de São Paulo cujo moto é "recuperar na América Latina o que foi perdido na Europa do Leste.
 
Por um lado, as respostas foram alentadoras pois ele fez questão de separar a Venezuela de Chávez, o Brasil de Lula e a Bolívia de Morales, entre outras figuras deprimentes que eu poderia ter citado, da Cuba de Fidel. Para Kwaniewski, o perigo que representam essas lideranças e o estrago que podem causar está no curto prazo pois seus discursos não teriam mais consistência no longo prazo e novas lideranças, com outras idéias, ocupariam seus lugares. Contudo, o estrago que podem fazer neste momento não se pode calcular. Entre nós, parece mais um exemplo do pouco conhecimento que o mundo externo tem da situação latino-americana, que só não é pior porque com o poder que cada líder do Foro de São Paulo obteve com o passar do tempo, também cresceu o ego de cada um e o concerto entre eles para uma união com fins comuns não é, felizmente, algo fácil - sobretudo na disputa velada entre Lula e Chávez na América do Sul.

O que ficou de mais interessante na sua resposta, porém, foi o reconhecimento de que o comunismo não é para ele apenas uma página virada como, ainda durante sua juventude, passou de uma utopia para um desapontamento e de um desapontamento para uma frustração total. E o principal motivo do fracasso do comunismo, disse o ex-presidente, é que ele não entende o papel do indivíduo e do ser humano.

"No comunismo você é a sociedade, você não é um indivíduo. Hoje você até pode organizar sociedades e comunidades baseados em valores comuns, mas o mais importante é o ser humano, o indivíduo - e isso o comunismo não entendeu"
. É bom que fique registrado. Isso o comunismo não "entendeu". Então porque ainda tem tanta gente que insiste nessa idéia amalucada? É o que me pergunto... E foi mais adiante, "democracia significa debate, troca de idéias, comprometimento, algo com o que o comunismo não consegue conviver pois necessita de um poder ditatorial para funcionar, para obrigar quem não aceita a idéia do comunismo a fazer parte do sistema". Por isso, Chavez is about how to use old ideas in a new situation.

 

Tuesday, February 10, 2009

Por que é difícil o exercício da liderança...?

 

 

Três professores do Instituto de Liderazgo, da Espanha, Prof. Juan Rivera, José Luis Calvo Azpeitia & Pedro Goiya, são os responsáveis pelas aulas desta semana. Ontem tivemos a primeira experiência com os três que a partir de uma dinâmica da qual participamos sem termos conhecimento (!) nos demonstraram como estamos extremamente propensos a respeitar a autoridade constituída, a não oferecer resistência e a dificilmente questioná-la. Hoje discutimos sobre o assunto e vou me dando conta de como o exercício da liderança é algo muito mais difícil do que pensamos - especialmente se queremos chegar a uma determinada liderança e precisamos desafiar o status quo para alcançarmos nossos objetivos. Na primeira foto, a turma em aula e eu, obviamente fora da foto por estar atrás da câmera. Na segunda foto, ao lado do escudo que cada estudante teve que "dibujar" (desenhar) com diferentes aspectos de suas personalidades, atividades e objetivos.
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O discurso de Obama

Tive a oportunidade de assistir hoje, ao vivo, a transmissão tanto do discurso como da entrevista coletiva que deu à noite o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Enfatizando muito o fato de que, neste momento, o Governo é o único capaz de fazer algo pela economia estadunidense, disse de uma cidade de Indiana, severamente afetada pelo desemprego, que espera uma atuação rápida do Congresso no assunto.

De forma sutil mas perceptível, criticou adversários de seu plano e solicitou aos que são do contra que achem outra forma de "criar ou salvar" 4 milhões de emprego. A verdade é que Barack Obama está aproveitando sua popularidade neste início de governo para apostar nela todas as fichas no plano de estímulo a economia. Contudo, a tarefa é árdua: se, por um lado, 76% dos americanos dizem apoiar o presidente, em relação ao quase trilionário pacote a margem de apoio diminui drasticamente para 55%, encostando nos 45% contrários. Ou seja, o presidente viu-se obrigado a ir a campo, utilizar-se da sua popularidade para convencer os contrários do que de fato quer com seu pacote deixando bem clara sua mensagem: "neste momento, somente o governo pode salvar a economia". E isto, afirma, ele diz respaldado na grande maioria, "quase unanimidade", dos economistas.

O país da economia de mercado, obviamente não aceitaria que seu presidente negasse a preferência da geração de emprego pela iniciativa privada, e é por isso que reforçou ainda ao princípio que ela continuará sendo a principal fonte de geração de emprego no país. Mais adiante, ousou citar números: dos novos empregos gerados pelo pacote - que inclui escolas do século XXI, informatização e modernização do sistema de saúde e a transformação dos prédios públicos em edifícios ecologicamente corretos -, 90% serão provenientes da iniciativa privada. E, o grand finale, "there's not such a thing as a free lunch", também apareceu em parte de uma resposta ao entrevistador.

Como disse em um artigo anterior, o poder realmente está nas mãos do Congresso, que são aqui nos EUA,legítimos representantes do povo. Sobretudo os deputados, eleitos a cada dois anos e que, mal tomam posse, já estão pensando nas próximas eleições - e, por isso, não podem cometer erros cruciais neste curto prazo, fazendo o oposto do que lhes pedem suas bases.

Obama desistiu, diz a imprensa, de construir um acordo bipartidário para preferir ver, de uma vez, seu pacote aprovado. A verdade é que ele parece nunca ter dado valor a um acordo bipartidário. Escolher republicanos para a Administração pode ser até considerada uma perfumaria, neste sentido. Contudo, o que mais demonstra que, em verdade, não há tanto um empenho em conciliar os opostos é a sua constante crítica à herança maldita recebida do governo anterior.

A estratégia pode dar certo e Obama sair glorificado por ter gasto uma quantidade do dinheiro sagrado do contribuinte que nenhum presidente americano jamais ousou gastar para intervir na economia e tirar o país da recessão já em curso. Contudo, tendo em conta as críticas e a divisão existente neste momento - e quanto a qual não parece que se vá a fazer alguma coisa, ao menos no que diz respeito a iniciativa do presidente -, se a euforia e o alívio que Obama diz estar certo que serão verificadas no médio prazo não se tornarem realidade, a mudança em que tantos acreditaram em novembro passado terá vida muito curta.

Editorial GCL 2009 reunido

 
Hoje no final da tarde, após a aula dos três espanhóis do Instituto de Liderazgo, reunimo-nos para discutirmos a criação de um blog ou site e uma newsletter do Programa Global Competitiveness Leadership 2009. Parte do grupo está na foto. Laura e Maria Isabel, que também participaram da reunião mas chegaram mais tarde, infelizmente não aparecem aí. Enviamos hoje e-mail ao diretor acadêmico do Programa Ricardo Ernst, que é nosso convidado para a primeira edição da Newsletter. Queremos colocar no site o perfil e prinicipais idéias e impressões de todos os 35 participantes e fazer uma breve contextualização de cada um dos 13 países.

Fazer já agora, enquanto estamos aqui nos EUA, uma newsletter para ser enviada aos nossos parceiros e organizações afins em nossos países ajudará no fomento de nossa rede de contatos e num ponta-pé inicial para o exercício da liderança de cada um dos jovens que está participando do curso aqui em Georgetown. Amanhã (hoje) temos nova reunião ao meio-dia e, se tudo correr dentro do cronograma, até sábado estarão nossa newsletter e blog/site prontos. Como dizem os hispano hablantes, a ver...
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Monday, February 9, 2009

Encontro com ex-embaixador no Uruguai

 
 

Como publiquei no post anterior, encontramo-nos durante o horário do almoço com o ex-embaixador norte-americano no Uruguai. Pedindo para que não gravássemos nem escrevêssemos literalmente o que ele nos dizia, em uma conversa informal o Sr. Martin Silverstein falou sobre o anti-americanismo na América Latina e como lidar com ele, as impressões sobre o novo presidente norte-americano Barack Obama e a sua política para a América Latina - nisso disse que acha que o presidente está tentando atrair a simpatia latino-americana amolecendo no trato, mas que isso ao final demonstra fraqueza -, e sobre os desafios da região com seus líderes políticos populistas - e como pensa que, na verdade, a maior ameaça não se chama Hugo Chávez mas os russos e os chineses e a influência desses países na economia e segurança de toda a América do Sul e Central.
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Almoço com ex-embaixador norte-americano

 
Chegando segunda-feira cedo de manhã para mais um intenso dia em Georgetown. Hoje, ao meio dia, o CLAS (Centro para Estudos da América Latina) promove um almoço com o ex-embaixador americano no Uruguai, Martin J. Silverstein.

De acordo com o site oficial do Centro, Silverstein propiciou que o Tesouro americano emprestasse 1,5 bilhão de dólares para salvar o sistema bancário uruguaio e intermediou o primeiro tratado de investimento bilateral da Administração Bush. Silverstein recebeu a distinção de Gran Oficial pelo Presidente Uruguaio, a mais alta distinção que já foi dada a um cidadão norte-americano pelo Uruguai. À tarde posto sobre o que falou o distinto ex-embaixador.
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Quem é o dono do poder nos EUA?

Nos Estados Unidos, onde a crise surgiu, é também onde ela já está demonstrando o resultado mais temido: altos indices de desemprego. Na última sexta-feira, veio a público por aqui uma pesquisa referente ao mês de janeiro de 2009: apenas neste primeiro mês do ano, perderam-se no país mais de 600 mil empregos. a maioria deles na Agricultura e na Construção, passando de 18% o índice de desempregados em cada uma dessas áreas.

O recém-eleito presidente norte-americano Barack Obama quer aprovar um pacote de estímulo à economia que chega ao trilhão de dólares. Contudo, sua capacidade de liderar o processo está sendo colocada à prova no Congresso. Para entender porque está se arrastando a aprovação de um plano que parece ter motivos para ser aprovado logo, temos que levar em consideração o seguinte:


• os EUA são um país extremamente descentralizado. Por isso, estímulos à economia partindo de Washington precisam estar claros à população, que entrega não mais do que 9% de todo seu imposto à federação (um contraste imenso com o caso brasileiro);


• os partidos são pouco organizados nacionalmente nos EUA e não há como exigir fidelidade partidária. Apesar de não contar com um voto sequer dos republicanos, os democratas conseguiram aprovar o pacote na Câmara Baixa, mas não contaram com onze votos de seus próprios correligionários. Ou seja: nem a totalidade dos Democratas está convencida de que os mais de 800 bilhões de dólares serão bem aplicados porque suas lideranças estão sendo pressionadas por suas bases locais, que preferem corte nos impostos a gastos do governo;


• o plano foi redigido inteiramente por democratas, que aproveitaram para incluir ajuda a organizações e projetos cujos benefícios para o estímulo da economia americana são duvidosos. No Senado, republicanos acusam Obama de não estar sendo líder mas de estar sendo liderado pelos oportunistas de plantão. Por outro lado, os próprios republicanos estão se vendo às voltas com a possibilidade de que três de seus senadores votem, de forma avulsa, pela aprovação do pacote vindo da Câmara. Mais um motivo de indignação para os republicanos, pois tem-se falado em acordo bipartidário quando não mais de meia dúzia de republicanos estão dispostos a aprová-lo.


A votação do pacote ficou para esta terça-feira. Ao que tudo indica, haverá uma flexibilização da proposta no Senado e um acordo na Câmara para que esteja aprovado ainda nesta semana e o presidente Obama possa colocá-lo em prática. Contudo, o que fica disso tudo é que, nem com toda a popularidade de Obama, há como o presidente sujeitar o Congresso ou mesmo o Partido Democrata, à sua vontade, pois quem detém controle sobre o dinheiro é o Congresso – e, por isso, detém também o poder de dizer o que será feito dele, seja época de crise ou não.

O que é o Programa Global Competitiveness Leadership?

Como não há um link na internet para o qual possa direcioná-lo, vou aproveitar o StudentHandbook que recebi para explicar o que é o programa, traduzindo trechos dele para o português.

Em 2006, a Georgetown University decidiu fundar um Conselho para a América Latina - Latin American Board. Segundo a Universidade, o Conselho foi cirado com o intuito de ser "um componente central para o aumento da extensão e para o fortalecimento das atividades acadêmicas oferecidas". Os objetivos incluem a criação de uma Aliança Latino-America, no qual alunos da Universidade, latinos que se relacionam com Georgetown e outros membros da comunidade universitária com algum interesse na América Latina possam converger. O foco do Conselho são as questões que dizem respeito à competitividade na América Latina: as tendências globais que afetam diretamente o crescimento econômico e desenvolvimento da região; a necessidade de se melhorarem os padrões acadêmicos; a urgência em se criar instituições fortes; a garantia do respeito ao Estado de Direito; e a necessidade de que se tracem estratégias para aumentar a competitividade da iniciativa privada.

Os membros do Latin American Board são:

José María Aznar (Presidente de Honra), da Foundation for Analysis and Social Studies (FAES) e ex-primeiro ministro da Espanha;
Alberto Beeck (Presidente), presidente da Cementos Pacasmayo, do Peru;
Ricardo Ernst (Diretor Executivo), da Georgetown University;
Antonio Ardila, Vice-presidente da Ardila Lülle, da Colombia;
Jorge Born, Jr., presidente da Bunge Ltd., da Argentina;
Gustavo Cisneros, presidente do Cisneros Group, da Venezuela;
Marcelo Claure, presidente Brightstar Corporation, da Bolívia;
Guillermo Lasso, presidente Banco de Guayaquil, do Equador;
Manuel Dias Loureiro, presidente do Banco Português de Negócios, de Portugal;
Maurício Toledano, vice-presidente da Eurofinsa, da Espanha;
Lorenzo Zambrando, presidente da CEMEX, do México;
Enríque García, presidente da Corporação Andina de Fomento;
Álvaro Saieh, vice-presidente da Corp Banca, do Chile;
Ana María Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, Brasil.

Agradecimentos

Esta é a primeira postagem em meu blog. Criei-o hoje especialmente para escrever sobre as impressões que tivemos até agora no curso Global Competitiveness Leadership, oferecido a 35 estudantes de 13 diferentes países da América Latina.

Infelizmente, ainda não pude colocar no ar o meu website, mas até o final desta semana estará disponível em www.marcelvh.com.br com tudo o que consta neste blog.

Antes de iniciar, preciso agradecer imensamente ao Sr. William Ling, presidente do Instituto Ling (www.institutoling.org.br), e à sua equipe, que tornou possível minha participação neste Programa. Participamos de um processo de seleção em Porto Alegre e me orgulha muito poder dizer que fui entrevistado e escolhido para participar deste Programa por uma pessoa com a reputação e história de serviços prestados a jovens gaúchos e brasileiros que receberam bolsas do Instituto Ling como é o Sr. William Ling.

Também à Georgetown University e ao seu Latin American Board, na pessoa do Sr. Ricardo Ernst, agradeço a oportunidade.

Last but not least, aos que me escreveram cartas recomendando-me para o programa: o Sr. Francisco Turra - presidente da Fundação Milton Campos de estudos políticos do Partido Progressista; o Sr. Olavo de Carvalho - filósofo, jornalista, escritor e meu professor, que me apresentou ao Foro de São Paulo; ao Sr. Paulo Tigre, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul; e ao Deputado Federal Renato Molling - membro suplente do Parlamento do Mercosul.

Normalmente se agradece quando se termina um curso deste tipo, mas quero agradecer a todos já de antemão a fim de que fique bem registrado que não haveria nenhuma maneira de eu estar aproveitando esta oportunidade ímpar se não fosse por todas estas pessoas e, claro, pela Sandra Moscovich, que entrou em contato a partir do instituto Ling por email com a Juventude Progressista Gaúcha, informando-nos do Programa, a quem também jamais deixarei de demonstrar minha gratidão.

Feitos estes registros, me pongo a escribir, como diriam os latino-americanos aqui presentes...

Sunday, February 8, 2009

Música virtual

As prateleiras da Bestbuy, além dos CDs - cada vez mais raros e impopulares - agora tem também os cartões de crédito iTunes. Com eles, é possível comprar músicas para o iPod ou simplesmente baixar mp3 de acordo com o valor adquirido - há várias opções, como US$ 20, 30 ou 50.
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