O deputado republicano Ron Paul é certamente o mais radical congressista norte-americano quando se fala em liberalismo e em estado mínimo. O texano, obstetra de profissão, é deputado desde 1977. Desde então, não foram raras as ocasiões em que se viu só ao votar contra determinados projetos de lei a que se opunha, cravando 1 voto contrário no placar de 434 favoráveis. Sua obstinação fez com que se tornasse conhecido no meio político como Dr. No (Dr. Não) - sua esposa, porém, diz que na realidade os seus opositores soletram errado o apelido: o correto seria Dr. Know (algo como Dr. Sabe-tudo).
Trinta anos após sua entrada na política, Paul experimenta a fase mais promissora de sua carreira. Concorreu nas primárias passadas pela indicação do Partido Republicano à presidência (vencida por John McCain), o que deu visibilidade nacional ao seu nome, e foi escolhido recentemente por seus colegas republicanos como presidente do subcomitê de política monetária nacional do Congresso, além de ver agora seu filho Rand eleger-se senador pelo Kentucky. Em posição de destaque nacional, é também um dos líderes do Tea Party, principal movimento conservador norte-americano de oposição ao governo Obama e que surgiu na esteira da indignação de grandes setores da população do país contra os pacotes econômicos do governo.
Li há pouco entrevista com Paul feita por Ni-Hai Tseng, da revista Fortune, e cuja tradução em português está publicada no site do Instituto Mises Brasil. Ali, Paul defende talvez a tese mais controversa de toda a sua carreira: a extinção do FED, Banco Central Americano, e a volta ao padrão-ouro. Em época de crise cambial em todo o mundo e, em especial, da decisão do FED de inundar o mercado com US$ 600 bilhões de dólares, não surpreende que as ideias de Paul estejam sendo ouvidas. Ele próprio, porém, admite que se fosse presidente, não acabaria de vez com o FED, mas criaria uma espécie de "período de transição". De qualquer maneira, é interessante que, por mais que seja tratado como louco por muitos de seus colegas de partido, inclusive, a situação lhe é favorável, e uma nova tentativa de participar das primárias republicanas à Casa Branca já passa dos 50%, segundo ele próprio.
Não se pode prever, hoje, qual seria seu apoio em uma eventual candidatura - sobretudo porque, da vez passada, o movimento do Tea Party sequer existia. O fato concreto, porém, é que as ideias de Mises e da Escola Austríaca que Ron Paul defende estão encontrando um inesperado eco na sociedade - e o interesse na trajetória do texano só aumenta à medida que o governo Obama vai passando e suas políticas econômicas vão cada vez mais perdendo respaldo da sociedade. Velho líder dos libertários norte-americanos, novo líder dos conservadores, Ron Paul pode dar aos americanos ao menos uma certeza: se suas ideias não encontrarem respaldo no Congresso, mesmo assim aparecerá no placar um voto a seu favor.
Leia mais sobre Ron Paul na recente matéria, em inglês, do New York Times de 12 de dezembro.
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