Tuesday, February 10, 2009

O discurso de Obama

Tive a oportunidade de assistir hoje, ao vivo, a transmissão tanto do discurso como da entrevista coletiva que deu à noite o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Enfatizando muito o fato de que, neste momento, o Governo é o único capaz de fazer algo pela economia estadunidense, disse de uma cidade de Indiana, severamente afetada pelo desemprego, que espera uma atuação rápida do Congresso no assunto.

De forma sutil mas perceptível, criticou adversários de seu plano e solicitou aos que são do contra que achem outra forma de "criar ou salvar" 4 milhões de emprego. A verdade é que Barack Obama está aproveitando sua popularidade neste início de governo para apostar nela todas as fichas no plano de estímulo a economia. Contudo, a tarefa é árdua: se, por um lado, 76% dos americanos dizem apoiar o presidente, em relação ao quase trilionário pacote a margem de apoio diminui drasticamente para 55%, encostando nos 45% contrários. Ou seja, o presidente viu-se obrigado a ir a campo, utilizar-se da sua popularidade para convencer os contrários do que de fato quer com seu pacote deixando bem clara sua mensagem: "neste momento, somente o governo pode salvar a economia". E isto, afirma, ele diz respaldado na grande maioria, "quase unanimidade", dos economistas.

O país da economia de mercado, obviamente não aceitaria que seu presidente negasse a preferência da geração de emprego pela iniciativa privada, e é por isso que reforçou ainda ao princípio que ela continuará sendo a principal fonte de geração de emprego no país. Mais adiante, ousou citar números: dos novos empregos gerados pelo pacote - que inclui escolas do século XXI, informatização e modernização do sistema de saúde e a transformação dos prédios públicos em edifícios ecologicamente corretos -, 90% serão provenientes da iniciativa privada. E, o grand finale, "there's not such a thing as a free lunch", também apareceu em parte de uma resposta ao entrevistador.

Como disse em um artigo anterior, o poder realmente está nas mãos do Congresso, que são aqui nos EUA,legítimos representantes do povo. Sobretudo os deputados, eleitos a cada dois anos e que, mal tomam posse, já estão pensando nas próximas eleições - e, por isso, não podem cometer erros cruciais neste curto prazo, fazendo o oposto do que lhes pedem suas bases.

Obama desistiu, diz a imprensa, de construir um acordo bipartidário para preferir ver, de uma vez, seu pacote aprovado. A verdade é que ele parece nunca ter dado valor a um acordo bipartidário. Escolher republicanos para a Administração pode ser até considerada uma perfumaria, neste sentido. Contudo, o que mais demonstra que, em verdade, não há tanto um empenho em conciliar os opostos é a sua constante crítica à herança maldita recebida do governo anterior.

A estratégia pode dar certo e Obama sair glorificado por ter gasto uma quantidade do dinheiro sagrado do contribuinte que nenhum presidente americano jamais ousou gastar para intervir na economia e tirar o país da recessão já em curso. Contudo, tendo em conta as críticas e a divisão existente neste momento - e quanto a qual não parece que se vá a fazer alguma coisa, ao menos no que diz respeito a iniciativa do presidente -, se a euforia e o alívio que Obama diz estar certo que serão verificadas no médio prazo não se tornarem realidade, a mudança em que tantos acreditaram em novembro passado terá vida muito curta.

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