Friday, March 20, 2009

O céu será o mesmo com Clodovil?, por Claudio Júnior Damin

Publicarei também regularmente neste blog, textos de Claudio Júnior Damin, formado em Ciências Sociais e mestrando em Ciência Política. É colunista desde 2005 da Folha do Nordeste, de Lagoa Vermelha.

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O céu será o mesmo com Clodovil


Na última terça-feira a indesejada das gentes arrebatou o apresentador e deputado federal Clodovil Hernandes. Figura conhecida por todo Brasil, Clodovil viveu uma vida de extremos, de polêmica, de verdades e de crises. E, por isso mesmo, foi uma daquelas pessoas em que o ponto médio quase é inexistente: ou se ama, ou se odeia.

De menino adotado por um casal de espanhóis a grande estilista, de exímio apresentador e comunicador de televisão a deputado federal, de homem com crença inabalável a Deus a polêmico e “liberal” em suas declarações, de pessoa bondosa e caridosa, mas descontrolado em seus gastos pessoais, Clodovil foi, sem dúvida, um brasileiro com “b” maiúsculo.

Sua língua ferina e “venenosa” lhe fez adquirir uma espécie de “clube de ex-amigos” e, também, de “ex-empregos”. Clodovil tinha, sem dúvida, o dom da palavra. Falava muito, e com conteúdo. Exalava uma paixão pela vida e a certeza da morte não o fazia temente a ela. “Não tenho medo da morte”, repetia.

Mas o que eu mais admirava nele, como ser humano, era o seu agradecimento a Deus. Enquanto muitos tentam escondê-lo de suas vidas, Clodovil, durante sua existência, manteve o discurso de tributo a ele. Sentia a presença de Deus nas flores, nas árvores, em sua residência em Ubatuba, incrustada no alto de um morro. Dizia que as coisas da natureza eram demais perfeitas e que apenas Deus teria conseguido fazê-las.

As polêmicas em que se envolveu durante sua vida jamais colocaram em xeque o seu caráter ou honestidade. Crescendo na vida, reputava que sua consciência e seu caráter eram os maiores bens que sua amada mãe havia deixado como herança. “É preferível afrontar o mundo e servir nossa consciência a afrontar nossa consciência para ser agradável ao mundo”, eis uma das grandes frases do apresentador.

O apresentado da “lente da verdade”, o costureiro que fez e lançou moda, o cidadão que fez teve quase 500 mil votos para deputado federal em 2006 e o político que tinha a consciência de que “o povo não ama Brasília” agora jaz à presença divina. Deixou um legado importante, que será por muito tempo reconhecido como um dos protagonistas da moda e da história da televisão brasileira.

Por ironia do destino Clodovil tombou no dia do nascimento de sua maior amiga, Elis Regina, num 17 de março que trouxe o luta à Brasília, às instituições nacionais e à televisão brasileira.

Uma vez disse que, com ele na Câmara dos Deputados, “Brasília nunca mais será a mesma”. E agora a multidão de seus admiradores deve estar se perguntando: “O céu será o mesmo com Clodovil?”

*Publicado no jornal Folha do Nordeste, coluna do dia 20 de março de 2009.

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