Monday, March 30, 2009

A outra face de Íngrid Betancourt

Por Cláudio Júnior Damin

Íngrid Betancourt ganhou notoriedade mundial ao ser resgatada da selva colombiana em 2008. Ex-candidata à presidência da República, Íngrid fora seqüestrada em fevereiro de 2003 pelo grupo narco-terrorista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Junto com ela, mais três americanos também foram libertados do cativeiro.
Um fato que, particularmente, chamou a atenção, foi a disposição de Íngrid Betancourt imediatamente após ser libertada. Sua palidez, fraqueza e desanimo foram logo substituídos por uma mulher atuante e que rodou o mundo denunciando a situação das FARC na Colômbia. Foi à França agradecer o apoio do presidente Nicolas Sarkozy, visitou o Chile e foi indicada para o Nobel da Paz, ganhou o prêmio Príncipe das Astúrias da Concórdia, foi ao Santuário de Lourdes rezar, reuniu-se com o Papa Bento XVI, e, em novembro, fez roteiro por países da América Latina.
Íngrid vendeu a imagem de “boa moça”, vitimada por um sequestro desumano, e vitoriosa por ter sobrevivido. Mas, o que os jornais publicam atualmente é uma outra versão da franco-colombiana.
O jornal Prensa Libre, da Guatemala, destaca que Íngrid “agradeceu a meio mundo por sua liberação, mas não a sua família e a pessoas que arriscaram a vida por ela, e isto gerou comentários que a qualificam como ingrata e mal agradecida”. O diário entrevistou, também, Noel Saez, que foi emissário especial do governo francês para auxiliar na libertação de Íngrid e que, em livro, critica duramente a “boa moça”. Diz ele: “eu arrisquei a vida por ela. Ela deu a volta ao mundo para agradecer aos grandes da Terra, ao Papa, aos presidentes e a outros chanceleres, e se esqueceu de alguns, dos mais pequenos, dos mais expostos, aqueles que mais se arriscaram por ela”.
Outro fato acontecido e informado pela imprensa foi a solicitação, por parte de Íngrid, do divórcio de seu marido, alegando anos de separação de corpos. E logo se revelou que ela teve um caso com outro refém das FARC, que à época de seu seqüestro era senador. Hoje seu ex-marido é um dos grandes críticos do comportamento de Íngrid. Aliás, quando foi libertada, parece que a ex-cativa não deu muita atenção para a família, tanto que o português Diário de Notícias afirma que ela, depois da libertação, “logo que acabou de abraçar a mãe e os filhos, Mélaine e Lorenzo, que não viu crescer, centrou-se em manter a atenção da mídia internacional nos companheiros que ainda estavam seqüestrados”.
Keith Stansell, Tom Howes e o luso-americano Marc Gonçalves foram os três outros reféns libertados junto com Íngrid Betancourt. E eles acabam de publicar um livro onde fornecem uma visão completamente diferente da franco-colombiana tida como “boa moça”. Segundo o Diário de Notícias, “os três chegam mesmo a dizer que ela era pior que os seus guardas”.
Entrevistado por El Periódico, da Catalunha, Keith Stansell afirmou que sua visão a respeito de Íngrid “não é positiva”, arrematando que “ela nos queria em outra parte do acampamento”. Aliás, ela dizia aos guardas do acampamento que os três americanos eram da CIA e que representavam uma ameaça a todos e, por isso, deveriam ser transferidos para outro lugar. Além disso, Íngrid não dividia comida nem compartilhava o rádio, demonstrando, segundo os americanos que viveram com ela, um alto grau de egoísmo. No jornal mexicano Vanguarda, Stansell afirmou não gostar "de gente que joga com a vida de outras pessoas”, numa referência direta a Íngrid.
Se o medo, a solidão ou qualquer outro motivo fez com que Íngrid Betancourt tivesse esse comportamento durante os anos em que esteve seqüestrada, ele não poderia ser ignorado. Ou, nas palavras dos americanos: “o que se passou na selva não morre na selva”.
A versão dos três prisioneiros americanos tem corrido o mundo e Íngrid não disse uma só palavra a respeito. Neste momento ela está enclausurada em algum lugar da Colômbia escrevendo seu livro sobre os anos de cativeiro na selva. Aguarda-se a versão e a explicação de Íngrid Betancourt para o que ocorreu naqueles anos difíceis para a vida dos seqüestrados e de seus familiares.

Publicado na coluna do Jornal Folha do Nordeste, de Lagoa Vermelha, do dia 27 de março de 2009.

2 comments:

  1. Este post é um belo exemplo. Aliás, são vários belos exemplos num só (e isso sim é raro de se encontrar), "vai ver" por isso mesmo a capacidade de mostrar o que a mídia "das massas" não publica, porque não vai de encontro aos interesses desta, e por isso o povo fica privado e ceifado da possibilidade de experimentar o pensar criticamente, com o conhecimento dos "dois lados de uma moeda", de uma informação. E, o "outro lado da moeda" é: Ingrid não é tão recomendável em nosso apresso quanto imaginávamos...!
    Marcel, muito obrigado!

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  2. Este post é um belo exemplo. Aliás, são vários belos exemplos num só (e isso sim é raro de se encontrar), "vai ver" por isso mesmo a capacidade de mostrar o que a mídia "das massas" não publica, porque não vai de encontro aos interesses desta, e por isso o povo fica privado e ceifado da possibilidade de experimentar o pensar criticamente, com o conhecimento dos "dois lados de uma moeda", de uma informação. E, o "outro lado da moeda" é: Ingrid não é tão recomendável em nosso apresso quanto imaginávamos...!
    Marcel, muito obrigado!

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